I - O NAVIO FANTASMA
Procuro alguém que fale minha língua
(...)
Que me faça desaparecer
Sob os lençóis de seus cabelos
E entre as montanhas níveas de seus seios
(...)
Escrevo cartas de despedida...
Algumas nunca serão lidas
E ficarão abandonadas na cozinha
Ao sabor do pó e do anoitecer
(...)
Calço sempre as mesmas sandálias
Trago sempre comigo um gosto que ficou...
II - O CORSÁRIO NÁUFRAGO
De tanto silêncio teu silêncio virou adeus...
Assim disseste adeus vezes demais
Quando estavas apenas em silêncio
Pois teu silêncio,
No medo de falar demais.
Transformara-se em adeus
Tuas cartas de despedida são folhas em branco
Não refutam não aceitam
Apenas dizem adeus
E enquanto caminhas pelo mundo
Em silêncio
Vai levando consigo o gosto
De tanto adeus...
III - A NAVE ERRANTE
Todos seus bens se acomodam em sua velha mochila:
Uma harmônica prateada, um revólver sem balas
Várias cartas de despedidas
E alguns dados para jogar
O resto ele levava sempre consigo:
A sandália suja, uma bala de revólver
E um estranho gosto que ficou
Mas o que mais lhe pesava
Nas costas, nos braços, no peito
Incansável
Era o desejo de dizer: “Eu te amo”
Até que alguém recolha essa frase
e lhe devolva
Mas ninguém parece assumir essa resposta
E assim sua errância continua...
Nenhum comentário:
Postar um comentário