quarta-feira, 12 de novembro de 2008

I - O NAVIO FANTASMA


Procuro alguém que fale minha língua

(...)

Que me faça desaparecer
Sob os lençóis de seus cabelos
E entre as montanhas níveas de seus seios

(...)

Escrevo cartas de despedida...
Algumas nunca serão lidas
E ficarão abandonadas na cozinha
Ao sabor do pó e do anoitecer

(...)

Calço sempre as mesmas sandálias
Trago sempre comigo um gosto que ficou...


II - O CORSÁRIO NÁUFRAGO


De tanto silêncio teu silêncio virou adeus...

Assim disseste adeus vezes demais
Quando estavas apenas em silêncio

Pois teu silêncio,
No medo de falar demais.
Transformara-se em adeus

Tuas cartas de despedida são folhas em branco
Não refutam não aceitam
Apenas dizem adeus

E enquanto caminhas pelo mundo
Em silêncio
Vai levando consigo o gosto
De tanto adeus...


III - A NAVE ERRANTE


Todos seus bens se acomodam em sua velha mochila:
Uma harmônica prateada, um revólver sem balas
Várias cartas de despedidas
E alguns dados para jogar

O resto ele levava sempre consigo:
A sandália suja, uma bala de revólver
E um estranho gosto que ficou

Mas o que mais lhe pesava
Nas costas, nos braços, no peito
Incansável
Era o desejo de dizer: “Eu te amo”
Até que alguém recolha essa frase
e lhe devolva

Mas ninguém parece assumir essa resposta
E assim sua errância continua...

Nenhum comentário: