terça-feira, 14 de julho de 2009

Carta Aberta


Algumas pessoas compreendem a tristeza como um aprendizado e não como uma punição por si só. Se ter consciência dos próprios erros não diminui a dor causada nem faz de alguém um ser mais digno, ao menos possibilita nos reencontrarmos com nossa humanidade para que a partir daí possamos construir novos significados.

É impossível desfazer a dor que um dia porventura infringimos a alguém. Se eu pudesse voltar atrás eu agiria diferente, justamente porque a tristeza me tornou diferente. Agora eu sou quem eu deveria ter sido naquele momento. E compreender isso me é doloroso até quase o limite.

Quando perdemos alguém perdemos também um pouco de nós. Hoje eu reencontrei o pedaço de mim que eu havia perdido: o pedaço que te afagava os cabelos e repousava tua fronte sobre o meu colo, e que te fazia sorrir das coisas mais bobas, e que te amava desde o acordar até a hora de dormir. Mas infelizmente reencontrar o pedaço do outro que perdemos é muito mais difícil, até mesmo impossível. E assim perdi o teu sorriso e o teu jeito maravilhoso de me amar... amando como ninguém talvez tenha me amado... E eu sou grato por ter recebido esse amor... E me condeno até a raiz dos ossos por não tê-lo retribuído por completo.

Hoje eu sei, ontem eu não sabia. Nisso consiste o erro...

Mas o arrependimento não absolve. Somente teu perdão pode fazê-lo. Mas não ouso pedir perdão. Apenas teu coração, justamente o coração em que eu insensivelmente cravei as unhas até sangrar, pode me perdoar. E se ele assim o fizer ao menos nem toda essa dor terá sido em vão. Pois eu haverei crescido com meu erro e tu crescerás ainda mais na plenitude do teu ser, pois és feita de amor.

Que as nossas boas lembranças sejam vivas: que tenham o gosto do café com pizza nas manhãs de domingo; que tenham a argêntea luz da lua que iluminara teu sorriso nas primeiras noites em que dormimos juntos; que tenham o aroma do vinho bebido descansadamente e o som em dueto das nossas vozes enquanto cantávamos à luz de velas.

E agora, enquanto busco forças para enfim seguir adiante, ouço retumbar em meu peito uma frase que escutei algures: “quantas pessoas ainda terei que magoar até eu encontre minha humanidade?”.



Janeiro 2009

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