Acho que esse quarto está ficando cada vez menor. Eu deveria medi-lo, mas não sei se existem medidas suficientes. Acho que ele diminui cada vez que eu olho, apertando como um cinto surrado. Cada vez eu tenho menos espaço no mundo, acho mesmo que as paredes estão caminhando como um totem gigante, lentamente me espremendo, tirando meu néctar como uma laranja em silêncio.
Acho que são alguns centímetros por dia. As paredes vão se acomodando cada vez mais, quase que posso ouvi-las respirar. É como um abraço frio, de mãos e braços e tijolos pintados com uma cor sem cor, com um gosto de degelo.
Alguém mais percebe isso? Elas acabaram de dar mais um passo. Estou sufocando no meu único lugar, as paredes se aproximam aos poucos, como um gato que ronrona sob nossas pernas. Mas o quarto é maior que um gato, é como um rinoceronte branco, um mamute que quer me prender em seu próprio espaço perdido.
Está mais próximo agora... Será que eu deveria pedir ajuda? Vou ser esmagado e nada posso fazer. As quatro paredes andam juntas e silenciosas. Totens gigantes, construídos para me cercar, para me proteger, para me prender no espaço. É uma caixa que se fecha cada vez mais. Um útero que me conforta e me desespera.
Talvez se eu saísse daqui... posso realmente evitar essa tragédia? As paredes estão ficando menores, eu sei. Lá fora tem um céu de um azul assustador. Ele também está se fechando.
Não são as paredes, nem o céu, nem o despertar solitário. Eu estou ficando cada vez menor, esmagado e sem fronteiras.
Além do mais, não é só o espaço que me comprime... em algum lugar o tempo acabou de passar com a precisão de um segundo triste.
Um comentário:
Não nos conhecemos pessoalmente, mas parabéns pelos textos. Tocaram-me pela singeleza. Sou professora. Fernanda.
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