sexta-feira, 14 de março de 2008

"Lá fora..."
murmurava em meia voz e à luz de velas
uma rima que um dia
fugira de um soneto
"... lá fora as pessoas
não são como aqui: amantes e amadas
As palavras não tem o mesmo valor
e não raras vezes são vomitadas ao esmo
não significando nada depois de proferidas"
À sua volta algumas rimas entreolharam-se
E exclamaram surpresas:
"Mas como pode ser?
Não existe então o Supremo Amor?
Aquele senhor por quem vários poetas
fizeram-nos lacrimejar de paixões e verdades?"
A rima, valendo-se da experiência que possuía
por um dia haver fugido, retomou a palavra
em tom grave e catedrático:
"Alguns, certamente, dizem que amam
e bebem em nossa fonte para agradar o ser amado
Mas aos poucos vão se perdendo, mentem...
E vários poemas, destituídos de sentido, não passam
de um papel sem nome sujando as ruas
junto às folhas alaranjadas do outono."
Uns versos brancos, de explícito estilo romântico,
franziram o cenho desconfiados:
"Blasfêmia!!
Impossível crer que seres tão brutais
Possam existir num mundo tão perfeito,
onde o orvalho da manhã, inspirado pelo canto da cotovia,
acaricia maviosamente as tranças da virgem
e o sol das tardes azuis beija suas faces amorosas
com a doçura de um apaixonado!!"
A rima, após uma baforada de cachimbo,
vício que adquira no curto tempo em que fugira,
sentenciou:
"Este, caros senhores, de vírgulas e linhas, é o nosso mundo...
O deles, lá fora, é um patético fracasso!!!"

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