A vós vos venho com poesias amargas
Envolto no cáustico sudário da Dor,
em minhas mãos trago o cálice vazio
no qual o licor d'alma o inferno tragou
em doses curtas e sôfregas
Como quem cava a própria sepultura
e escreve sobre alabanda fria a dolorosa
canção que lhe indicará o funesto amor
A luz me queima como velas ardentes e
na medida em que a fumaça envolve
os recônditos berços da turva essência
sinto o deflorar de tétricos sentimentos
Poesias amargas, hálito do âmago;
insetos que trazem em suas almas hialinas
o ácido da solidão e melancolia
o ácido que alimenta a distância
A nós receio nada possuir
Nada que renegue o silêncio...
Teus olhos tenho-os incrustados em mim
safiras que repousam no relicário dourado
e que tanto furtam lágrimas quando
expostas na vitrine da lembrança púrpura
Ah, sinto o deflorar de sonhos malditos
Faço tolas preces sem religião
Eternas lamúrias, ainda que inaudíveis
Ainda que sem vida a desfalecerem secas
Vermes de amor, poesias amargas
Imóveis torvos no jardim negro de Bosch...
A vós vos venho com poesias amargas
Delícias do Inferno
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